A segurança no maior entreposto da América Latina

Ceagesp investe R$ 1 milhão em segurança.

Por Sandra Cunha

Fotos: Osiris Bernardino

A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) surgiu em maio de 1969, da fusão de duas empresas mantidas pelo Governo de São Paulo: o Centro Estadual de Abastecimento (Ceasa) e a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Cagesp). A empresa que centralizava o abastecimento de boa parte do País rapidamente consolidou sua atuação nas áreas de comercialização de hortícolas e armazenagem de grãos.

Em 1977, quando a Companhia ampliou o pavilhão MLP (Mercado Livre do Produtor) no entreposto da capital, a comercialização atingiu o recorde de 6,2 mil toneladas de produtos vendidos num só dia e superou o maior mercado do mundo, o Paris-Rungis, na França. Ainda hoje, o Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) é considerado um dos maiores centros de comercialização atacadista do mundo, com a movimentação de 280 mil toneladas de frutas, legumes, verduras, pescados e flores a cada mês.

No final dos anos 70, a empresa iniciou o processo de descentralização, inaugurando em São José do Rio Preto a primeira unidade de comercialização fora da capital. Atualmente, a companhia mantém doze unidades no interior, próximas a polos de produção e consumo. Na mesma época, a empresa também investiu no atendimento ao consumidor. Em 1979, criou o primeiro varejão com produtos frescos a preços controlados. Em 83 vieram os sacolões para vender legumes e verduras por quilo a preço único. Em 84, surgiram os comboios, que funcionavam como mini varejões. E em dezembro de 1994 a Ceagesp colocou em funcionamento o Varejão Noturno no Entreposto da Capital.

A rede de armazenagem também acompanhou o crescimento da companhia. Em 1970, a Ceagesp construiu os primeiros silos horizontais do País, acoplados a graneleiros. Na época, a rede recebia os estoques reguladores do governo federal, comprados em vários estados e armazenados em cidades do interior de São Paulo.

Com o tempo também foram inaugurados os entrepostos de Santo André e de Campinas.

A partir de 1986, os armazéns passaram a abrigar açúcar ensacado, por conta da expansão da cultura de cana-de-açúcar que, ao lado da laranja, assumiu a liderança da agricultura paulista. Em 1997, a Ceagesp foi federalizada e vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Hoje, mantém a maior rede pública de armazéns de São Paulo e um complexo de 13 centrais atacadistas, que asseguram o abastecimento de grande parte do estado. São movimentadas 10 mil toneladas de alimentos por dia.

Legenda: Magno Oliveira Santos

Magno Oliveira Santos é chefe da Seção de Segurança Operacional e Patrimonial, funcionário de carreira da Ceagesp há 30 anos e se orgulha do trabalho efetuado no maior entreposto da América Latina, mesmo sem ter (ainda) grande número de equipamentos de segurança instalados. “O forte da segurança na Ceagesp é efetuada pelos vigilantes, que efetuam a ronda de carro, de moto e a pé. É o olho e a experiência do profissional que faz a diferença”.

São 200 vigilantes e 30 inspetores de segurança que se revezam por 24 horas, sete dias por semana. Destes, 35 são funcionários concursados e os demais terceirizados. Por dia circulam no entreposto uma média de 60 profissionais, com 10 motocicletas e 5 viaturas. A comunicação entre esses profissionais é efetuada por meio de 80 rádios HTs. A Ceagesp investe cerca de R$ 1 milhão ao mês com a segurança do entreposto.

O trabalho tem que ser mesmo bem coordenado e efetivo, pois são 700 mil m?, divididos em 45 ruas, onde circulam uma média diária de 60 mil pessoas. De sexta-feira esse número chega a 100 mil, já às 9 horas por conta da feira de flores. Isso sem contar a frota de  16 mil caminhões que circulam pelo entreposto diariamente.

Segurança terceirizada e treinamento

Grande parte dos vigilantes que operam na Ceagesp são terceirizados e essas empresas entram no entreposto por meio de licitação, em contratos com vigência de cinco anos.

Essa troca de profissionais poderia ser um problema, mas o departamento de segurança conseguiu manter um corpo profissionalizado. “Aproveitamos uma média de 80% do contingente de vigilantes. A maioria que trabalha no entreposto não quer ir para outro lugar. Assim, quando o contrato está para acabar, faço uma análise e os profissionais mais comprometidos são dispensados da empresa que concluiu o contrato e, no mesmo dia, são contratados pela empresa que ganhou a licitação para mais cinco contrato. Isso faz com que continuemos com uma mão de obra especializada”, afirma Magno Oliveira Santos.

O trabalho no entreposto é bem diferente do que o vigilante está acostumado. Normalmente ele é treinado para trabalhar em bancos, fica de plantão ao lado da porta giratória. Na Ceagesp o vigilante trabalha ao ar livre, no meio da rua e se relaciona com as pessoas. “Eles vêm treinados da academia e são certificados pela Polícia Federal. É um treinamento de 15 dias, na prática mesmo. Tem muito vigilante que sai daqui e ingressa na carreira de policial militar, de tão bom que ele fica. Aqui o serviço é de polícia, já que realizam abordagem e encaminham os casos para a delegacia. Inclusive os vigilantes trabalham armados”, afirma Santos.

A Ceagesp mantém o cadastro de seus vigilantes sempre atualizados, mesmo porque a Polícia Federal segue um esquema de fiscalização rigoroso. Além de verificarem a atualização cadastral de cada trabalhador, ainda realiza visitas surpresas, onde verificam  a validade de condições em que se encontram os coletes e as armas. Para ter a segurança orgânica e a terceirizada tem que ter a autorização da Polícia Federal, exército, Polícia Militar e Civil. Autorizações essas renovadas anualmente, após comprovação de que cursos de reciclagem e de formação estão todos em conformidade.

Poucas ocorrências, milhares de pessoas

Legenda: Grande volume de pessoas e mercadorias com baixo índice de delitos

O grande volume de pessoas, veículos e mercadorias nos leva a creditar que o número de ocorrências tem a mesma proporção. Por mais incrível que isso possa parecer, os números não têm relação. A média é de um furto por dia. Outras ocorrências menores acontecem, como leves colisões de veículos, que são resolvidas na hora.

Os próprios frequentadores do entreposto montaram uma rede de informações. Dessa forma, quando alguém visualiza algo suspeito, entra em contato com a segurança  que de imediato segue até o local para fazer a averiguação.

Segundo Magno Oliveira Santos, a maioria das ocorrências no entreposto está relacionada apenas a furto de mercadorias. “O indivíduo vem, coloca uma caixa de fruta no ombro, se mistura com a multidão e conclui o furto. Quando o vigilante consegue identificar o ocorrido ele aborda o agente do delito, identifica de onde a mercadoria foi subtraída e a devolve para o permissionário, que pode ou não fazer o Boletim de Ocorrência. Alguns preferem não fazer”.

A cada dois meses, aproximadamente, são registrados um roubo de caminhão. “O ladrão se aproveita da distração do motorista, entra no veículo e vai embora. Isso até termos o controle de acesso na portaria. Depois vamos eliminar essa ocorrência também. É bom frisar que aqui não é um estacionamento, é um terminal de cargas”, destaca o chefe de segurança.         Para maior segurança do entreposto foi proibida a circulação de motos. “Quando as motocicletas tinham a circulação permitida aconteciam alguns casos de assaltos. Depois que proibimos a circulação, essa ocorrência simplesmente zerou. As motos não entram de maneira alguma. Ficam nos bolsões dos portões 3 e 13. Só em caso de emergência mesmo que esse veículo pode ser autorizado”.

Projeto piloto monitora pavilhão

No pavilhão que comercializa melancia e coco verde, Magno está implantando um projeto de monitoramento eletrônico particular e instalou quatro câmeras em pontos estratégicos. “Fiz por conta própria. A instalação em massa desses equipamentos depende da licitação que está em processo de conclusão. Contudo, esse projeto serviu para vermos o quanto o monitoramento pode ajudar na segurança do entreposto e do que vamos precisar exatamente para monitorar toda a Ceagesp. Quanto vemos um caso de furto registrado pelas câmeras já resolvemos a questão no ato com o resgate da imagem que é mostrada ao permissionário, dono da mercadoria. Na maioria das vezes identificamos o autor do furto, muito comumente um funcionário. As pessoas, sabendo que estão sendo filmadas, cometem menos delitos”.

Carregadores e permissionários – organização própria ajuda a segurança

São 3.500 carregadores circulando pelo entreposto. Parece um formigueiro, mas com uma organização que impressiona.

Magno Santos explica: “Eles mesmos buscaram uma organização para transportar as mercadorias e essa organização é uma questão de segurança. Os carregadores circulam por corredores delimitados por eles, que têm prioridade devido o peso que carregam. Eles é que trazem agilidade para o entreposto. Sem eles para tudo”, esclarece.

Os carregadores são autônomos e fazem o preço direto com o contratante. Todos são identificados por números, fixados na vestimenta. “Em caso de problemas com a segurança ele pode ser advertido, suspenso ou ter a licença de trabalho cancelada. Temos um regulamento na Ceagesp para nortear o trabalho dos carregadores e eles têm que seguir o que diz o documento a Norma UP01. Um desses itens do regulamento, inclusive, diz respeito à quantidade de caixas que podem ser carregadas por vez. O volume não pode ultrapassar a 20 caixas. No caso desse número ser ultrapassado o carregador é multado. Além de ser um fator de segurança, também é fundamental para a integridade física do trabalhador”.

Os permissionários estão em mesmo número que os carregadores, exatos 3.500. Eles locam os boxes por mês e cada um é uma empresa dentro do entreposto. No valor do aluguel já está intrínseca a segurança, fiscalização e os gastos com água, luz e telefone. Mesmo com a vigilância oferecida pela Ceagesp, 20% dos permissionários têm câmeras instaladas em seus boxes para monitorar seus funcionários e mercadorias.

Projeto social afasta crianças e adolescentes da delinquência no entreposto e adjacências

Magno Oliveira Santos foi jogador de futebol profissional na década de 80 em Sergipe e usou esse seu talento para acabar com os casos de roubo cometidos por crianças e adolescentes da comunidade vizinha ao entreposto.

Ele foi o fundador do Projeto Nossa Turma, que consiste em uma escolinha de futebol, reforço escolar e educação ambiental integrada. “Criamos esse projeto social em 1998 e ele nos traz muito orgulho. Desde que começamos a trabalhar com a criançada  cessaram os casos de furtos e de vandalismo dentro da Ceagesp. São mais de 500 garotos que participam do projeto que está condicionado à frequência nas aulas. Assim eles não têm tempo ocioso, praticam um esporte e ficam longe da criminalidade. A molecada não vêm mais para o entreposto e eu sou respeitado na comunidade”.