Segurança para quem precisa de segurança - NetSeg

Segurança para quem precisa de segurança

Cidades Digitais |

Em uma grande cidade, um criminoso aborda um cidadão e rouba seu carro. O proprietário percebe que seu celular ficara no assento do carona e passa a informação à polícia, que começa imediatamente a rastrear o veículo. O computador mostra que o automóvel foi estacionado a poucos metros de um estádio de futebol onde será realizado, em algumas horas, um jogo de Copa do Mundo.

Dentro do estádio, sistemas de reconhecimento facial analisam cada torcedor e repassam as imagens ao banco de dados da polícia. Ao cruzar as informações, um suspeito é identificado. A foto é mostrada à vítima, que confirma: é ele. O centro de controle do estádio é acionado, localiza o bandido e passa a monitorá-lo. Na saída do estádio, ele é preso – sem alarde e sem que seja preciso disparar um único tiro.

Um episódio como esse poderia acontecer em alguma cidade brasileira durante a Copa do Mundo de 2014. Ou mesmo ameaças mais sérias, como atentados terroristas, por exemplo. É preciso pensar em todas as possibilidades. E prevenir, claro. Por isso várias empresas estão investindo em soluções de TI voltadas para a segurança pública pensando nos dois grandes eventos que o Brasil sediará: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. A exposição LAAD 2011 – Latin America Aero & Defence, realizada em abril, no Rio de Janeiro, reuniu algumas dessas empresas e mostrou como a tecnologia de informação poderá enfrentar esses desafios.

Melhor que GPS

Na história que acabamos de contar, o rastreamento do celular e a precisão das informações sobre a localização do veículo foram garantidos por uma tecnologia chamada Uplink Time Difference of Arrival (U-TDOA), desenvolvida pela norte-americana TruePosition e, hoje, largamente utilizada nos Estados Unidos, onde analisa anualmente mais de 60 milhões de chamadas feitas para o serviço de emergência 911.

Receptores ultrassensíveis instalados nas torres de telefonia celular permitem rastrear qualquer aparelho, dando sua localização num raio de 50 metros, mesmo que esteja em “modo avião”. Também é possível saber se um chip é trocado de um aparelho para outro.

Segundo o diretor de Marketing da empresa, Brian Varano, o sistema tem vantagens em relação ao GPS: “O GPS não funciona em todos os aparelhos e requer um chip no telefone. E nem sempre funciona em lugares fechados ou em meio a prédios muito altos, pois opera por satélite. Nosso sistema não precisa de software ou de chip e funciona em qualquer ambiente – aberto ou fechado”, explica. Atentados terroristas que usam celulares como detonadores de explosivos (como o ocorrido em Madri, em 11 de março de 2004) podem ser combatidos usando essa tecnologia.

“Se um telefone está próximo de um alvo potencial, como uma embaixada, e não sai daquele local num período de duas horas, podemos emitir um alerta para monitorá-lo. Seria uma pessoa sentada no banco de um parque ou um aparelho preso a uma caixa com explosivos? No caso de uma perícia, poderíamos verificar qual telefone desapareceu no momento exato em que a bomba explodiu – seria, possivelmente, o detonador – e que número havia feito a última ligação para aquele aparelho – sendo, portanto, o responsável pela explosão. Também é possível saber com quem essa pessoa se comunicou momentos antes do atentado”, diz o executivo.

Geofencing

No campo da prevenção, outra aplicação muito útil seria o geofencing, uma cerca virtual em torno de uma área crítica ou estratégica, como prédios governamentais, penitenciárias, usinas nucleares etc. O sistema registra todos os aparelhos wireless permitidos dentro daquele espaço e avisa se um intruso estiver dentro da “cerca”.

Cada vez que um sinal telefônico não autorizado é detectado, é emitido um alerta. No mesmo momento, passa a ser feito um rastreamento em tempo real das mensagens de texto e chamadas enviadas e recebidas por aquele aparelho.Um sistema como esse permite criar um mapa de conexões entre pessoas e fornece informações valiosas sobre o funcionamento de organizações criminosas. Mas tudo isso, naturalmente, desperta uma discussão sobre privacidade.

“Há níveis diferentes de privacidade ao redor do mundo. Essa é uma preocupação nossa. Nos EUA, por exemplo, não podemos fazer rastreamento de um cidadão sem autorização judicial. O mesmo acontece aqui no Brasil. Mas lá, por lei, o cidadão que aciona algum serviço de emergência concede automaticamente às autoridades uma licença para que sua localização seja verificada, de forma a protegê-lo ou enviar ajuda”, observa.

Nos EUA, o governo obrigou as empresas de telefonia a incorporar alguma tecnologia de localização às suas operações. No Brasil, esse tema ainda precisa ser discutido.

Sistemas integrados

Mas voltemos ao exemplo lá do começo. Dentro do estádio, a tecnologia de reconhecimento facial que ajudou a identificar o criminoso foi desenvolvida pela espanhola Indra, que mantém sede no Brasil e oferece soluções para sistemas de defesa, vigilância de fronteiras, comando e controle.

Horácio Sabino, CEO da companhia, que já atende o governo federal, bem como operadoras de telecomunicações e de energia, confirma que está ampliando a oferta de serviços no país nas áreas de vigilância de fronteiras e defesa. “Estamos constituindo equipes próprias e fazendo alianças com empresas locais, com transferência de tecnologia para o Brasil. E já estamos produzindo equipamentos em Curitiba (PR)”, revela.

Mas além de projetos de comunicações militares via satélite e veículos não tripulados capazes de vigiar territórios e gerar imagens em tempo real, a Indra quer aproveitar a experiência de gerir eventos que atraem grande público. “Num estádio, fazemos controle de acesso e segurança, usamos sistemas de reconhecimento facial para identificar indivíduos perigosos. Detectamos os incidentes e passamos para o centro de controle do estádio, onde muitas vezes os problemas já são resolvidos. Mas é claro que, num evento como a Copa ou as Olimpíadas, é preciso ter um sistema de controle integrado com a polícia, os bombeiros e a defesa civil”, observa.

Sabino revela que tem trabalhado com o Ministério da Defesa em sistemas de gerenciamento de fronteiras, mas tem conversado bastante sobre o tema que preocupa fortemente os brasileiros: os aeroportos. “Hoje a questão aeroportuária é um tema fundamental”, destaca. “Há um grande trabalho a fazer. Somos uma das maiores empresas do mundo em gestão de tráfego aéreo e queremos apoiar esse plano brasileiro. Os eventos estão marcados, não há como adiar ou dizer que farão depois”, alerta.

Comunicação em áreas remotas

Agora vamos imaginar que a infraestrutura de telecomunicações de uma região entre em colapso após alguma catástrofe ambiental. Improvável? Pois foi o que aconteceu recentemente, na região serrana do Rio de Janeiro, quando as chuvas provocaram uma tragédia de enormes proporções e deixaram cidades como Nova Friburgo praticamente ilhadas. Naquele momento, pode-se dizer que a solução veio do espaço. Mais exatamente de um sistema de telecomunicação que funciona via satélite.

“Quando aconteceu a enchente, a infraestrutura caiu e a Polícia Civil precisou adquirir esse equipamento com urgência”, conta Johnny Nemes, diretor Sênior de Evolução de Sistemas da Inmarsat, fornecedora especializada em serviços de comunicação móvel por satélite. “Nosso mercado é 50% governo, pois é uma aplicação ideal para uso em segurança pública”, acrescenta.

A imprensa também pode fazer bom uso desse equipamento para enviar reportagens ou fazer entradas ao vivo sem maiores transtornos – esse recurso tem sido usado por diversas emissoras de televisão. Agora consideremos a possibilidade de um grupo de turistas estrangeiros, durante a Copa do Mundo, aproveitar a viagem para esticar até o arquipélago de Fernando de Noronha. Se a embarcação estiver equipada com um serviço como o FleetBroadband, qualquer problema durante o passeio poderá ser informado imediatamente às autoridades náuticas. O sistema oferece conectividade IP de até 432 kbps e telefonia com qualidade de linha fixa. Atualmente, pela legislação internacional, qualquer navio com mais de 300 mil toneladas deve ter um sistema desses.

Para o mercado aeronáutico, a Inmarsat desenvolveu o SwiftBroadband, com capacidade similar e já instalado em cerca de 9 mil aeronaves de empresas como Emirates e Air France. “Onde não tem mais cobertura terrestre celular, aí é o nosso mercado”, explica Nemes.

“Se você está no meio do mar ou no espaço aéreo internacional, no meio do rio Amazonas, do Saara, no meio da guerra, o serviço Inmarsat está lá. E o Brasil é um dos países em que essa tecnologia é fundamental, por sua extensão e pelas grandes distâncias”.

No momento, a empresa investe numa versão “turbinada” dos seus serviços, o Global Xpress, que vai fornecer 50 mbps, operando na banda Ka. O primeiro satélite será lançado em 2013 – bem a tempo do Mundial de futebol.

Por Fausto Rego