Segurança de Grandes Eventos no Brasil – O que Boston pode nos ensinar? - NetSeg

Segurança de Grandes Eventos no Brasil – O que Boston pode nos ensinar?

Cidades Digitais | 21/04/2013

A nova tragédia que aconteceu em Boston, Estados Unidos demonstra que o terrorismo (interno e internacional) está cada vez mais ativo, e as conseqüências são cada vez mais avassaladoras, e buscam alvos que para muitos analistas podem ser os mais improváveis. Claro que no caso de Boston, os terroristas de alguma forma calcularam bem a ação, pois considerando o tipo de evento (maratona), o momento de comemoração (feriado e nível de tranquilidade na população), a grandeza do evento (nível internacional) e o próprio alvo (Boston, símbolo político dos Estados Unidos), o objetivo do terrorismo foi alcançado, pois gerou e desencadeou um ambiente de terror perante todo o mundo, sem contar que esvaziou o tema Coréia do Norte da imprensa mundial, confirmando para os Estados Unidos que esse é o menor problema, e seus inimigos estão cada vez mais invisíveis.

É triste a tragédia que ocorreu em Boston, estamos apreensivos para que as autoridades americanas possam ter esclarecimentos de forma rápida, mas ao mesmo tempo o Brasil precisa avaliar os impactos efetivos, e o que isso pode condicionar no futuro enquanto preocupações sobre a segurança de nosso território, considerando os próximos grandes eventos no país, e desde já consideramos o evento católico que acontecerá este ano, além dos eventos esportivos. O impacto do terror pode ser perturbador, mesmo considerando que o Brasil é um país sem inimigos, mas hoje o terror busca isso, locais que estão acima de qualquer suspeita para um potencial e novo ataque no mundo. Mas devemos entender que o Brasil é um grande aliado dos Estados Unidos, e com os tipos e portes de eventos, pode sim ser um alvo.

Em entrevista com um dos maiores especialistas de segurança de grandes eventos, Igor de Mesquita Pipolo, o Brasil precisa de uma nova postura efetiva, e os níveis de segurança que vivemos hoje coloca o Brasil em uma rota em xeque neste quesito. Os últimos acontecimentos no Brasil também apontam para um despreparo efetivo da sociedade, vejam os casos de estupro no Rio de Janeiro, assassinatos coletivos em São Paulo, homicídios em estádios no Nordeste do País, e aí vai um rol gigantesco de criminalidade que cresce no Brasil.

As percepções de Igor de Mesquita Pipolo são efetivas para uma avaliação e análise mais profundas das últimas ocorrências:

NETSEG – Com os últimos eventos em Boston – USA, como você avalia a segurança brasileira para os próximos grandes eventos?

IGOR PIPOLO – O Brasil ainda esta se “preparando”, um gerúndio permanente!

Se para um país altamente preparado como os Estados Unidos tal ameaça não pode ser contida a tempo, imagine no Brasil cuja tal realidade ainda não é vista como uma ameaça concreta nos dias atuais.

Em que pese os relevantes serviços prestados pelas polícias a sociedade brasileira, cabe lembrar que a questão de Grande Eventos (Segurança Pública) não é só de polícia e sim de um grande Sistema que envolve forças armadas, judiciário, polícias, legislativo, Educação, executivo, infra estrutura, entre outros tantos setores públicos e privados. Podemos até nos preparar para atender as crises (depois que aconteceram), mas preveni-las será o X da questão .

Há uma verdadeira onda de discursos hipócritas falando que já se fez isso e aquilo para a segurança pública. Na maioria dos casos foram ações pontuais, num ou outro Estado ou setor, que não representam ainda a Integração que esperamos ver como um legado pós Copa e pós Olimpíadas. Corremos o sério risco de perder a oportunidade de gerar significativas mudanças/melhorias por falta de um planejamento bem feito e a falta de visão sistêmica do problema de Insegurança Pública do Brasil.

O Governo Federal precisar desenvolver ações de mãos dadas com cada Estado, mas muitos colocam seus interesses Políticos acima das necessidades técnicas que o momento requer. É como se precisássemos de uma primeiro lugar para todos os Estados de uma só vez. Nesse momento não há mais espaço para vaidade e visões de curto prazo com fins eleitorais, temos que ser humildes o suficiente para aceitar os melhores projetos de um ou outro Estado e contribuir para o sucesso do conjunto. É preciso pensar Brasil!

NETSEG – Os nossos serviços de inteligência estão preparados para atuar de forma preventiva em relação ao terrorismo ou outras ameaças?

IGOR PIPOLO – Temos muitas ferramentas de inteligência no país, mas lamentavelmente não trabalham de forma integrada. Para acontecer troca de informações entre os sistemas das esferas Federal, Estadual e Municipal é necessário uma complexa e muito bem elaborada rede que permita aos seus participantes esse intercâmbio, mas é sabido que se compartilha muito pouco ou quase nada, ou seja, cada órgão de segurança tem a sua Inteligência.  Como pode funcionar uma inteligência segmentada num país de dimensões continentais como o nosso!? Os protocolos, leia-se: barreiras para se conseguir informações de um órgão para o outro não atende as condições de agilidade e confiabilidade que se necessita para se fazer um trabalho a contento.

Há um grande esforço para se ter acesso a bancos de dados internacionais com nomes, fotos e outras tantas informações importantes de terroristas e outros criminosos. De que adiantará tais informações se não tivermos um rígido controle de nossas fronteiras (Terra, Ar e Mar)? Como e com quem serão compartilhadas essas informações!?

Prevenir é caro e difícil, pior é assumir a Risco de não ter feito tudo que era necessário para evitá-lo.

NETSEG – Considerando os impactos do terrorismo mundial, somados aos problemas de segurança pública no Brasil, podemos dizer que o cenário para os próximos eventos no Brasil são de extrema cautela?

IGOR PIPOLO – O poder Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos) precisa fazer o Necessário para a segurança pública, ao invés do Conveniente (ou politicamente correto)!

Apesar de não termos o terrorismo tal qual ele se revela em outros países, já é sabido que grande eventos de repercussão internacional são oportunidades muito cobiçadas por grupos terroristas para realizar suas ações. Podemos até ter um atentado direcionado contra uma equipe de um país A ou B, mas será em solo brasileiro. Esse será o nó que precisaremos desatar.

Temos uma experiência de insegurança pública instaurada nos grandes centros urbanos, onde o domínio de grupos e/ou facções criminosas impõem condições a sociedade e até agora não temos o controle de todas as áreas por falta da presença do Estado. Falta uma forte Ação Política supra partidária capaz de mobilizar todas as esferas responsáveis pelo problema, com base num minucioso planejamento de Estado (20 anos) e acreditar que tal realidade só será transformada com base mínima na Educação e na Justiça.

Conheço muitos Secretários de Segurança, Comandantes Gerais das PMs, Delegados de Polícia Federal, Chefes de Polícia Civil, entre outras tantas autoridades policiais altamente capacitadas para atender as nossas necessidades, se não fazem mais é porque os Governadores não dão a questão de segurança pública a atenção que ela precisa para ser resolvida, e apenas protelam o problema para o por vir.

IGOR DE MESQUITA PIPOLO, ADS, ASE

CEO da Nucleo Inteligência e da Nucleo, Inc (Estados Unidos). É autor do Livro Segurança de Eventos – Novas Perspectivas e Desafios para Produção e professor convidado da Universidad Pontificia Comillas de Madrid/Espanha.Sócio-fundador e Ex-Presidente da ABSEG – Associação Brasileira dos Profissionais de Segurança, ex-Presidente da ASIS – American Society for Industrial Security – Chapter Brasil e Conselheiro do “Paulista Segura” – Grupo de Gestores de Segurança da Avenida Paulista.